sábado, 26 de maio de 2012

SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO

Seria cômico se não fosse trágico. (24 de maio de 2012) No último dia 22 de maio (terça feira) fomos à Sala São Paulo para ouvir o pianista chinês Lang Lang, cuja carreira acompanhamos através de vídeos e gravações, o qual, a cada novo contato, mais e mais nos surpreende com a sua sensibilidade incomum e maestria técnica.

A comicidade fica por conta de, ao ler crítica estampada no O Estado de São Paulo sobre o artista, sermos levados a pensar que fomos ouvir outro pianista, em outra sala de concertos, em um lugar qualquer da nossa imaginação ou - o que é pior – que, como a grande maioria daqueles que o vem aplaudindo em todo o mundo, não passamos de idiotas, neófitos em música, nada mais do que seres ingênuos manipulados pela indústria cultural.

Do alto da sua postura auto-suficiente, o crítico estampa já no título da sua diatribe que: “Falta emoção a Lang Lang”, levando-nos a pensar que o escriba não sabe muito bem o significado da palavra “emoção”, ou seja: “Estado de ânimo despertado por sentimento estético”. É possível que a sensibilidade do crítico não tenha sido despertada pela arte de Lang Lang, com o que concordo, mas, daí a generalizar vai uma distância muito grande, e não se pode imaginar que o jornalista tenha a pretensão de querer dizer que a sua sensibilidade é mais aguçada do que a da grande maioria daqueles que admiram o jovem chinês, isso cheira a egocentrismo.

Ao mencionar a “interpretação” do pianista, lança mão de uma frase de Pablo Casals que, citada fora do contexto em que foi dita, pode levar o leitor a imaginar que o célebre violoncelista era outro débil mental igual a nós; não percebe que assim fazendo está revelando mais uma faceta da sua doentia megalomania. Já que aprecia tanto citações, porque não pensa nas palavras de Claude Debussy: “Música não é o que está escrito, mas o que está por traz do que está escrito”.

Na falta de argumentos sólidos recorre a comparações e convida o leitor a ouvir interpretações de outros pianistas, como se isso fosse o parâmetro correto de julgamento. Talvez o seja para o crítico, mas não para aqueles cujo bom senso se apóia exatamente na riqueza própria da diversidade.

Sei que não é fácil expor com palavras, conceitos abstratos - como é o caso da interpretação – por essa razão, sugiro ao senhor João Marcos Coelho que se disponha a exemplificar o seu conceito de interpretação, subindo ao palco de um teatro qualquer e oferecendo ao público a “sua” interpretação de cada uma das peças apresentadas pelo jovem pianista asiático, só assim poderemos aquilatar a pertinência das suas observações. Criticar é fácil, o difícil é realizar, com os mesmos recursos do criticado, aquilo que foi considerado inadequado.

Uma coisa não consigo compreender. Como pode um jornal como “O Estado de São Paulo”, que já teve em seu corpo editorial críticos de música do porte de um Caldeira Filho e após a aposentadoria deste, seu discípulo José Guilherme – por ele indicado – abrigar em seu seio jornalista preconceituoso que, como “dono absoluto da verdade”, deixa claro que a grande maioria dos que dele discorda não passa de “1,3 bilhão e trezentos milhões de pessoas e um universo de dezenas de milhões de aprendizes de pianistas – (não seria de piano?) . . . dispostos a incensar um engodo que: “pouco tem a ver com música”, ou seja, somos um bilhão, trezentos milhões de dezenas de milhões de aprendizes de pianistas” débeis mentais, sem sensibilidade e cultura à altura da sua sapiência. Faça-me o favor!!! Isso depõe contra o jornal e só serve para reforçar o conceito generalizado de que: Crítico nada mais é do que um artista que não deu certo. 

Sérgio de Vasconcellos-Corrêa

Vídeo do Lang Lang disponibilizado no YouTube